Os liberais querem acabar com o SNS?

Contam as lendas que os papões liberais querem vender o Serviço Nacional de Saúde aos privados e acabar com o direito à saúde. Será verdade que os papões liberais querem que a saúde seja um negócio, porque os mercados estão primeiro? Querem que tudo seja pago, desde a cirurgia à aspirina? Será verdade que para esses papões liberais, liberdade é quando os privados são livres de rejeitar quem não tem dinheiro e as pessoas são livres de morrer em casa?

Vamos averiguar.

Os liberais gostam é do sistema americano?

O primeiro equívoco sobre o que os liberais pretendem para a saúde é achar que se inspiram num filme de terror americano, onde grandes grupos gananciosos da saúde fazem o doente pagar exorbitâncias pelos tratamentos mais básicos e fecham a porta a quem não tiver dinheiro para pagar. Mas na verdade, os exemplos que os liberais defendem vêm de países europeus.

O EHCI (Euro Health Consumer Index) compara os sistemas de saúde dos países europeus de acordo com os tempos de resposta, resultados e generosidade.

Será que na Alemanha, Holanda, França ou Suíça o acesso à saúde só existe para quem tem dinheiro para pagar valores astronómicos por uma injeção de insulina? Claro que não. Pelo contrário, são países com sistemas de saúde mais robustos e com melhor desempenho do que o nosso, e com os quais temos muito a aprender. É nesses países que os liberais encontram soluções para os problemas que todos reconhecemos no SNS. O exemplo mais evidente são as listas de espera. Na Holanda levantam-se vozes indignadas quando uma consulta de especialidade demora 5 ou 6 semanas. O tempo de espera que indigna holandeses é uma miragem para um português.

Eles querem acabar com a saúde pública?

Falso. Os liberais querem saúde pública mais acessível, de melhor qualidade, com menos tempo de espera e que não deixe ninguém de fora. Não vamos deixar de ter hospitais públicos nem vamos deixar de investir neles. O que os liberais querem é que os doentes não fiquem reféns de um sistema sobrelotado e sem capacidade de resposta para quem realmente precisa. Os liberais não querem acabar com a saúde pública, querem mais e melhor saúde pública, independentemente do prestador.

Querem fazer da saúde um negócio?

O SNS paga salários a profissionais de saúde, paga análises a laboratórios privados, paga a fornecedores para manter as estruturas a funcionar, paga medicamentos a grandes farmacêuticas multinacionais. Orgulhamo-nos do sistema pagar um medicamento que custa dezenas de milhares de euros, mas causa-nos arrepios a ideia de o SNS delegar noutro prestador para não fazer o paciente esperar um ano por uma consulta?

Se no hospital público não houver capacidade para tratar um doente e ao lado houver um consultório disponível para o tratar, por um custo razoável, porque não haverá de o fazer?

Se numa aldeia, onde as pessoas têm que fazer dezenas de quilómetros para serem atendidas, houver um médico disposto a abrir um consultório mais perto, porque não haverá de poder fazê-lo, cumprindo um conjunto claro de regras e recebendo conforme os serviços que presta àquela população, com valores tabelados? Porque não poderão todos ter mais capacidade de escolha e ter efetivamente um médico de família?

É isto que os liberais querem para a saúde em Portugal. A possibilidade de profissionais de saúde, por sua própria iniciativa, poderem integrar o sistema, complementando-o. Aproximar os cuidados de saúde do utente, fazendo mais e melhor, e dar ao utente a possibilidade de escolher onde prefere ser tratado, seja porque é mais perto, mais rápido, ou porque lhe inspira mais confiança.

Haverá saúde para os ricos e saúde para os pobres?

Saúde para ricos e saúde para pobres é o que temos com o sistema actual. Quem tem a possibilidade de aceder a um Seguro de Saúde pode escolher a saúde privada. Quem não tem recursos fica limitado à disponibilidade do SNS, com os seus tempos de espera que muitas vezes ultrapassam limites de razoabilidade.

Quando alguém é forçado a esperar um ano por uma consulta de especialidade, a saúde a tempo e horas transforma-se num privilégio só acessível a quem pode pagar fora do SNS.

O que os liberais pretendem é uma Saúde Pública mais acessível, de melhor qualidade, com mais oferta, menos tempo de espera, que não deixe ninguém de fora, sem tratamento desigual para filhos e enteados. A saúde não pode esperar. Os liberais querem repensar o sistema, colocando sempre as pessoas em primeiro lugar.

OS PAPÕES LIBERAIS

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